Sumol


Em criança devo ter bebido litros de Sumol. A minha mãe comprava carradas lá para casa. Substituía a água às refeições. Mas só para os petizes. Os adultos não se davam a essas infantilidades. O Sumol acabou por ficar, na minha cabeça, ligado à infância. Era uma bebida de crianças. Com a idade acabava por ser abandonada. Por isso faz-me sempre impressão quando vejo adultos a beber Sumol. Aquilo não bate certo. Há ali alguma coisa que está mal. Tirem o Sumol e ponham no seu lugar outra bebida qualquer e a impressão desaparece. Ou então transformem o adulto em criança e deixem ficar o Sumol que a impressão volta a desaparecer. Mas idade adulta e Sumol é que não faz mesmo sentido nenhum.

É por isso que compreendo muito bem um recente anúncio da Sumol onde se diziam coisas como “Um dia vais achar que sair à noite é ir pôr o lixo ao contentor. Quando esse dia chegar não lhe fales.”, “Um dia vais achar que tens de ir onde toda a gente vai. Quando esse dia chegar não lhe fales.”, “Um dia vais achar que tens que usar fato e gravata como toda a gente. Quando esse dia chegar não lhe fales.”, e por aí fora. Tudo isto, no fundo, poderia ser resumido numa única ideia: Um dia vais crescer, mas quando esse dia chegar não cresças, continua a beber Sumol. Faz todo o sentido. Para mim faz. E fico contente pelo próprio Sumol concordar comigo. Crescer diminui o consumo de Sumol. Por isso mantém-te sempre criança e bebe o belo do Sumol. Quando a maturidade quiser mesmo vir e obrigar-te a fazer coisas tão chocantes e inaceitáveis como usar fato e gravata, ir onde os outros vão ou vazar o lixo à noite, quando esse fatídico dia (fatídico ao menos para o Sumol) chegar, não lhe fales. Continua a beber Sumol.

Sem comentários:

Enviar um comentário